“Todas as palavras são a loucura dos Poetas, não fossem elas o próprio sangue que corre nas veias”


(Lúcia Machado)

14/05/2010

Pensamentos Soltos XVII

A gaveta de baixo
Tem cotão e um humildezinho pó irritante
Tem solas de sapatos gastos
E ainda algumas capas invejosas, cheias de cheiros nauseabundos
Acrescento também. Tem o salivar de um cão raivoso,
O gesto inapropriado do vento que semeia o ódio fecundo
Todo o corpo treme, com a tempestade que carregam os olhos
Essa gaveta de baixo…
É o revés da bofetada dada, com as costas da mão
O golpe proferido que me mata o silêncio da ausência
Aí, ainda se encontra
O fogo forjado da espada desembainhada
Onde corre o sangue efervescente pelas artérias e veias
…é o princípio da força e da existência.
Na gaveta de baixo, sou soldado em sentinela
À espera que a lanugem de certos frutos se juntem debaixo de certos móveis,
E ainda nos bolsos dos casacos.
Também para que sinta o odor e o sabor da fruta amadurecida.
Essa gaveta de baixo guarda…
Um quadrúpede carnívoro que toma o gosto da carne


(Lúcia Machado)

12/05/2010

Pensamentos Soltos XVI

Um dia saltei para dentro de umas botas…
Elas era tão grandes, que quase me afoguei na sua profundidade!
Um dia escalei as montanhas do teu olhar e vislumbrei o nascer da vida!
Encontrei-te num labirinto, assim um bocado amorfo…
Disseste-me que os rios ainda corriam em direcção ao mar, e que as andorinhas ainda regressavam a cada Primavera.
E eu, não quis crer!
Disseste-me ainda, que o mesmo Sol ainda se levantava todos os dias, e que a noite chegava sem pressa, dando lugar ao astro cansado.
…Que as estrelas, ainda faziam companhia à Lua que se encontrava sempre abandonada, e que o manto escuro da ausência do dia, era a capa que cobria o seu corpo gelado.
Contaste-me também, que todos os animais e árvores ainda eram o equilíbrio da Terra, que os bisontes ainda corriam livres pelas florestas desvirginadas, e que não eram mais uilizados nas arenas, para o combate mortal entre eles e os gladiadores.
Um dia, caí dentro daquelas botas…
…encontrei-te entre encruzilhar do meu pensamento.
Disseste-me…
Que a vida ainda é bela, e que todos os dias são sinónimo do renascer.
Falaste-me ainda, daqueles dias com cheiro a bolachas de limão, do café com broa…
E ainda do cheiro dos cabelos da minha mãe e do seu rosto doce e sempre macio…
…e ainda do seu abraço que me fazia sonhar…
Um dia, lembraste-me que o meu mundo, são as lembranças e também o futuro ao teu lado.
Voltei a sonhar…

(Lúcia Machado)

05/05/2010

Sem Ti...sou... (Poema música)



Quero agradecer este belo "presente" do Bruno, que gostou de um dos meus poemas, escrito numa outra fase da minha vida.

Fiquei muito lisonjeada, por alguém achar que o que escrevo é digno de música :-)

Obrigada Bruno, foi um prazer contribuir com o meu poema :-)


Sem ti…sou…


Sinto a tua falta…
Sem ti…
sou praia sem mar
Barco à deriva em maré-alta
Asas que não conseguem voar
Dias sem Sol
Que me fazem falta
Noites sem Luar
Rio que corre sem parar
Poeta sem inspiração
Alma que teima em divagar
Natureza sem fauna nem flora
Esta ausência que me devora
Regata ao sabor do vento
Outro pensamento…
Guarida ou covil feito tormento
Esmorecer sem entender
Régia sem Rei
Imperatriz sem trono
Odisseia sem dono
Politeama sem ti
…eu, não faço parte de mim

(Lúcia Machado)
18/09/2007

04/05/2010

Pensamentos Soltos XV

Tenho um desejo.
Não sei se o conte, ou se simplesmente o guarde.
Tenho um desejo.
Talvez, o deva soltar deste baú feito de memórias
Nele guardo muitas histórias
Algumas me levaram a caminhos penosos
Outros a encruzilhadas, e ainda a horas paradas
Tenho um desejo cor de prata.
É feito a fios de cetim bordado
Decorado, com as pérolas do mar azul da minha ilusão
Tenho um sonho guardado no jardim
Cheira a jasmim e é visto com os olhos da razão
Tenho um sonho… feito de sonhos
Neles deposito agora, as histórias feitas memórias
Tenho um sonho…
Vou até ao céu no meu baloiço feito de cordel
Sou papagaio construído às mãos de uma criança.
Sou pião, cubo mágico, e ainda yô-yô que vai e volta.
Tenho um sonho…
Deixar de ser boneca de trapos e passar a menina de carne e osso

(Lúcia Machado)
... Aqui jazem todas as angústias, os medos, a solidão, as alegrias, as tristezas...
Jazem momentos únicos, momentos irrepetíveis...
....a saudade, o acreditar....
..As lágrimas, o desespero, o renascer...
a morte...
Todos os momentos de uma vida...uns eternos, outros não...
Aqui jaz uma nova esperança... o amor...

...Tu...



(Lúcia Machado)




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