“Todas as palavras são a loucura dos Poetas, não fossem elas o próprio sangue que corre nas veias”


(Lúcia Machado)

25/03/2010

Pensamentos Soltos XIII

…sei do que falas, também as silvas dão flores, e mesmo o canto dos pássaros, nem sempre soam com a mesma melodia. Por vezes também o dia cai, e mesmo o negro céu, se torna claro como dia. O contrário, também pode ser o avesso do que realmente se quer. Até os lobos por vezes vestem a pele de cordeiros, ou os cordeiros se tornam em leões enfurecidos. E quem sabe, se a selva não pode ser também um lugar de culto para os dissidentes? Ainda o Mar se pode tornar em fogo, ou mesmo a areia se pode transformar nas estrelas que cobrem o mesmo céu. E se assim fosse, não mais existiriam as palavras dos transeuntes…nem as sombras, que arrefecem o mesmo chão por onde se deleita a brisa em brasa. Quem sabe se o fim de tudo, não seja apenas o inicio de um novo acordar. Também tu, serás terra, fogo e ar. Também a tua pele, dará lugar ao manto que um dia cobrirá a terra por onde pisas. E os teus olhos serão o espelho de um deus menor, e a tua voz, será a voz das searas que darão alimento a uma e outra Alma esfomeada e desgovernada por uma qualquer branca folha de papel. E os rios? Esses talvez comecem a correr no sentido inverso, e o verso da relva, talvez seja livre e cresça em sentido controverso. Assim a palavras talvez comecem a ter um sentido de pé quebrado, ou não… mais sentido do que o sentido que aqui está descrito. Porque também o que as mãos escrevem sem sentido, serão o sentido para quem as lê ou entende.
"Obscuro. Enleio. Pejo." Deve ser isso...

(Lúcia Machado)

19/03/2010

Pensamentos Soltos XII

Também tu habitas, nesse outro lado da Lua. Fazes das penas o cobertor com que te deitas. E das extensas folhas em branco, riscas à memória o outro ser, uma outra história. No dobrar da esquina dessa Lua quadrada, vês a tua sombra que agora segue sozinha. Não há corpo nem voz que te levem por outro caminho. Vais sempre pela mesma estrada, dobras sempre a mesma esquina medonha. Não há braços, nem pernas, olhos ou boca, apenas uma silhueta, um corpo que reflecte na superfície, uma bandeira de um corpo magro. Também tu, tens a visão que te persegue por entre as ondas do voo nocturno, comem-te os olhos que não existem, e das labaredas dessa fome que te consome, salta o vislumbre de quem perdeu o antigo brilho. O segredo é uma leve vela de chama esbranquiçada, frágil que entristece o espírito. Vives na penumbra das aves de rapina, agora elas, também são as tuas companheiras, ansiosas pela carne mortiça. E no negrume que te cerca, revelam-se os mistérios da claridade atenuada, pelo ser que te habita. Não mais há outra história, apenas a história de um corpo cambaleante, que descansa por fim, nas duras penas da caneta da ilusão.

(Lúcia Machado)

12/03/2010

Pensamentos soltos XI

Subi por entre as folhas que relatam a ténue memória. Sentei-me perto dum riacho e apenas bebi... os sons dos pássaros em acordes e palavras rasgadas. Deitei-me sobre o silêncio escondido, vislumbrei o verde sentir. Fechei os olhos e chegaram os dias mornos de Março. Rebolei no pensamento, dei por mim, a cantarolar ao compasso do passo do vento. De leve toquei no céu azul, tomei o gosto das nuvens feitas algodão. Costurei então, um vestido feito da copa das árvores, dancei ao som da orquestra do coração. Deslizei água abaixo, corri ao encontro dos peixes cor prata, provei o néctar servido pelas ninfas do Tejo. De volta ao prado, as folhas brancas da memória, deram lugar a uma história, que começava assim:

“Era uma vez, uma Garça Real…”



(Lúcia Machado)
... Aqui jazem todas as angústias, os medos, a solidão, as alegrias, as tristezas...
Jazem momentos únicos, momentos irrepetíveis...
....a saudade, o acreditar....
..As lágrimas, o desespero, o renascer...
a morte...
Todos os momentos de uma vida...uns eternos, outros não...
Aqui jaz uma nova esperança... o amor...

...Tu...



(Lúcia Machado)




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