“Todas as palavras são a loucura dos Poetas, não fossem elas o próprio sangue que corre nas veias”


(Lúcia Machado)

24/11/2009

Pensamentos soltos II

…de que adianta rasgar com a ponta dos dedos o negro do dia?
De nada te vale o coração que sangra, impuro pelos pensamentos de morte.
Chama-la de:
- Meu amor (agridoce)
…estendes-lhes os braços, ansioso que ela se deite no teu colo…
De que te servem os tambores que clamam a chegada da maldita?
Não vês que ela é uma miragem do silêncio em surdina?
Não abraces a morte, ela é apenas o engodo da doce calmaria…
Alcança a luz que ilumina o teu olhar…
Leva o teu corpo até à Lua e faz da noite fria o sonífero para o desalento
De que servem os corvos que te arrancam os olhos?
De asas negras anunciam a tua morte…
…desejas essa sorte?
Em furtivas bicadas, que te rasgam a pele até aos ossos…
… ao redor da fogueira soam os cânticos fúnebres


(Lúcia Machado)




Pensamentos soltos I

E…
Solta-se, como mais um dia, que chega em silenciosos passos
Talvez a face seja rosada, assim como a aveludada pele do pêssego
Tem cabelos macios, como o sedoso e fino cetim
Seu corpo esguio em boca romã
Braços que se perdem em abraços apertados
Longínquos olhos cor de avelã
Pernas modeladas ao mais alto e subtil enformar
Mãos que deslizam pelo corpo imobilizado
Dedos que dão corda, ao inicio da transformação do ser
Eclodem suspiros e desejos … unem-se num único respirar
E no baú traçado… encontra-se o velho corpo… fechado
E um coração… encontra outro

E os dois… palpitam em uníssono como um único ser

(Lúcia Machado)

17/11/2009

Porque a vida não é feita só de dor…

Ao longo de muito tempo tenho acompanhado alguns blogs, Poetas e Poetizas, alguns de Amor outros de imensa dor…
Existem aqueles que nos marcam com a sua imensa alegria, mas, os que mais me cativam são aqueles de imensa tristeza… não sei, talvez por me identificar mais com a dor… com o doce ópio da melancolia… Gostava de ter o dom de “curar” tristezas, de reparar corações partidos… de colar as pecinhas da Alma em turbilhão…de ressuscitar da morte inevitável, todos os corpos apunhalados pela dor…
Há dores de perda irreparável, dores de Saudade… Mas, o que faz de nós guerreiros destas dores sem fim, é a capacidade de olhar de frente, de expor o peito às balas e combater as mazelas da vida, que por vezes é tão cruel, e com um sorriso derrotar todos os “monstros” que insistem em nos devorar a mente, a Alma e até os sentidos…
Não há pior derrota, do que deixar que a vida nos derrote…
Dedico estas palavras, a todos aqueles que sofrem de alguma maneira, seja por Amor, por perda, saudade ou mesmo pelo descontentamento da vida…
Podem não ajudar… mas, fica a intenção…
Nunca se deve desistir… a vida traz-nos as maiores surpresas quando ficamos de braços abertos para a receber… sei do que falo…

"Atrás de uma montanha, existe sempre uma maior!"


A Tristeza

Chegou um dia, instalou-se e não mais quis sair
Encorajei-a a ficar, e agora?
Mesmo sem saber, tinha de substituir a perda por algo
…então aceitei a dor, sem prazo ou dia marcado para ir embora.

Ela entranhou-se, seguiu caminho pela minha Alma fora
Apoderou-se dos sentidos
…comandou os movimentos que julguei perdidos…
Tomou de assalto a vida, que não reconheço agora

E a doce alegria de viver...
Deu lugar, à vontade de morrer…

(Lúcia Machado)



…e assim revejo os sentires de outrora, noutros sentires de agora…

16/11/2009

…Teu nome, reconhecido a cada ausência, a cada dobrar da esquina nua e crua… na voz que o vento assobia…, trás as sílabas do teu novo “eu”… misto de um cheiro raro, uma brisa que sopra o doce aconchegar no casulo… esse, protegido por um mar revolto na dor da carne… nasce um outro “eu” também… e num tempo agora distante, arrastam-se as tábuas do meu caixão, intitulado…

aqui jaz: ”um antigo eu”

…talvez inanimado pelo doce ópio da paixão…


(Lúcia Machado)

03/11/2009

Num grito... (devaneios contínuos)

…na clausura das mãos sossegam velhos e lamuriosos sussurros
Deita os olhos por terra, absorve a chuva pelos poros em efervescência crescente
… na languidez do teu corpo, fustiga com os cabelos o rosto desgastado pelo tempo
Nada é eterno. Apenas a memória que nos atraiçoa, é evidente na realidade formada pelo pensamento.
Em benevolentes contrastes, erguem-se as vozes outrora silenciadas pelo calor que queima em silencioso tormento.
Semeiam-se lágrimas por uma terra inanimada,

desvirginada e morta, pelas pisadas de imponentes transeuntes, rasgados do corpo até à alma.
De nada mais servem… as breves passadas que dás, em torno de ti mesmo.
Será que não vês, que quanto mais foges, mais o mundo se comprime e implode a tua volta?!
É no coração do tempo, que se sente o pulsar da vida… onde renascem os teus filhos, num grito e a uma só voz.

(Lúcia Machado)
... Aqui jazem todas as angústias, os medos, a solidão, as alegrias, as tristezas...
Jazem momentos únicos, momentos irrepetíveis...
....a saudade, o acreditar....
..As lágrimas, o desespero, o renascer...
a morte...
Todos os momentos de uma vida...uns eternos, outros não...
Aqui jaz uma nova esperança... o amor...

...Tu...



(Lúcia Machado)




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