“Todas as palavras são a loucura dos Poetas, não fossem elas o próprio sangue que corre nas veias”


(Lúcia Machado)

20/07/2010

Pensamento Soltos XXII

“Como negar o quanto me dóis?!
Dói (s) -me no lado esquerdo do peito
Assim, como quem arranca a ferro e fogo as órbitas do rosto…”

Há muito tempo, lá na rua onde vivi, existia uma casa velhinha, paredes caiadas a branco gelo.
Nela vivia um amolador de tesouras, que se levantava pela alvorada.
Ele, costumava pegar no seu casaco de serapilheira grossa, no seu cão cegueta de um olho, e descia de bicicleta a rua ladrilhada a lágrimas geladas, e ainda de harmónica na boca tocava.
A música era triste e assobiava ao lado direito do coração, gemia baixinho as saudades de criança. Contava as subidas às árvores, e o correr descalço pela calçada em brasa. Falava ainda das fisgas, das amoras com açúcar e da cara lambuzada. Rezava a história de um menino de cabelo cor de cenoura, sardas e um dente fanado. Do sorriso amado pelos pais de uma criança. E como descia gargalhando aquela encosta, rebolando dentro de um bidão azul, da cor do céu. Fala dos carrinhos de rolamentos feitos de madeira e rodas “roubadas” , dos papagaios de papel que vivem com o vento. Das tocas dos grilos coçados pelas palhas das ervas douradas. Do cheiro da terra molhada e ainda da lágrima salgada do fim do Verão.
Lá na minha rua, vivia um amolador de facas, que dizia ao coração:
“Dói (s) - me no lado esquerdo do peito”
Saía todos os dias pela alvorada, fazia-se à estrada, em busca da meninice roubada.


(Lúcia Machado)



14/07/2010

Pensamentos Soltos XXI

Falas-me desse tempo
Das viagens suicidas ao encontro das palavras
Do ressoar da tinta marinada e na fusão do papel a quente
Contas uma, duas, três vezes, as saudades da alvorada
…falas da estrada que pisaste, das sandálias gastas e ainda
Do cabelo solto ao vento
E ainda assim deixas tantas coisas por dizer.
A tinta que escorre é o sangue que te corre nas veias
…o papel é a pele que cobre o teu peito
e o coração, é o catalisador para a eclosão dos fantasmas que te velam
Um dia, amarraste a perdição com as fiadas do teu cabelo
E ficaste com o abraço de outros braços
Um dia, saíste em busca da luz que outrora te seguia


(Lúcia Machado)
... Aqui jazem todas as angústias, os medos, a solidão, as alegrias, as tristezas...
Jazem momentos únicos, momentos irrepetíveis...
....a saudade, o acreditar....
..As lágrimas, o desespero, o renascer...
a morte...
Todos os momentos de uma vida...uns eternos, outros não...
Aqui jaz uma nova esperança... o amor...

...Tu...



(Lúcia Machado)




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